terça-feira, 11 de agosto de 2015

Nossa Senhora permaneceu virgem após o parto?


Santo Tomás de Aquino, antes mesmo da reforma protestante, já detinha os argumentos necessários para defender a fé na virgindade de Nossa Senhora


   A compreensão completa dos dogmas católicos não pode se restringir às poucas páginas de um livro, antes requerem uma longa análise dos seus diversos aspectos, tanto é assim, que a ciência responsável pela análise dos dogmas marianos ganhou uma denominação específica, para tratar deste assunto tão amplo: a Mariologia. Recebemos algumas indagações de um protestante que proferiu inúmeros comentários se posicionando contra a santidade de Nossa Senhora. Nos seus comentários surgiu um questionamento sobre a virgindade perpétua de Maria, o qual procuraremos esclarecer com base nos ensinamentos de Santo Tomás de Aquino, que foi sem dúvida, um dos maiores doutores no assunto, e Santo Agostinho. Segue o comentário do visitante:

Não podemos afirmar pela Bíblia que Maria depois de ter Jesus ficasse virgem, ainda que ela não tivesse mais filhos que eu duvido”

   Infelizmente, o protestante já inicia o comentário lançando mão de uma das heresias mais nocivas à unidade dos cristãos em toda a sua história, trata-se do dogma do Sola Scritpura proposto por Lutero. Como já tratamos deste assunto em outro artigo, não vamos nos deter ao mesmo, no entanto, vale lembrar mais uma vez que a Santa Igreja ao longo dos seus 2.000 anos, jamais utilizou as escrituras como regra única de fé, por isso, torna-se tarefa muito difícil para os protestantes encontrar a lógica dos ensinamentos da Santa Igreja, uma vez que foram acostumados a tomar a bíblia como única e suficiente meio para condução de sua fé.
   Tomando então, o centro do texto, que trata da justamente virgindade de Maria, pode-se notar que segundo a argumentação do protestante, seria impossível que Nossa Senhora permanecesse virgem depois de ter dado à luz Jesus, ainda que este não tivesse irmãos. Com essa afirmação, o comentarista impõe limites ao próprio Deus que criou o universo e tudo o que nele existe. Se Deus foi capaz de se encarnar no seio de uma virgem, sem precisar da ajuda de varão nenhum, e depois ainda, fez o maior milagre da história humana desde que o homem foi expulso do paraíso, ao ressuscitar seu filho Jesus dos mortos, como não teria poder para manter virgem a mãe do seu filho mesmo depois do seu nascimento?
   Sobre este assunto, Santo Tomás de Aquino, apresenta quatro motivos pelos quais não se pode questionar a virgindade de Maria após o parto. Em primeiro lugar, diz o Doutor Angélico, porque isto rebaixaria a perfeição de Cristo, uma vez que é filho unigênito e perfeitíssimo do pai (Jo 1,4), e assim conviria que o fosse de sua mãe. Em segundo lugar, seria uma grande injuria que o mesmo ventre santificado pelo Espirito Santo, fora depois violado por uma união plenamente carnal. Terceiro, porque isso seria um caso de ingratidão por parte da mãe de Deus, que não se contentando com o filho excepcional nascido do seu ventre quisesse perder a virgindade milagrosamente conservada nela, e por fim, o próprio São José cairia em uma presunção ao tentar contaminar aquele seio que gerou o filho de Deus [1].
   Assim também, Santo Agostinho lançando mão da passagem descrita em Ezequiel 44,2; onde se diz: “Esta porta está fechada, e não se abrirá, e não passará por ela nenhum varão, pois o Senhor Deus de Israel entra por ela”, afirma o seguinte: O que significa afirmar que esta porta fechada na casa do Senhor, senão que Maria será para sempre intacta? E o que quer dizer ao afirmar que nenhum homem passará por ela senão que José não terá relações com ela? E o que indica que só o Senhor entrará e sairá por ela, senão que o Espirito Santo à fecundará, e que o Senhor dos anjos dela nascerá? E o que significa que estará para sempre fechada, senão que Maria é virgem antes, no e depois do parto?[2].
   Para ficar mais claro, o que estes dois fragmentos pretendem demonstrar é que seria ilógico afirmar que Maria não permaneceu virgem mesmo após o parto, uma vez que santificado o seu ventre, este não seria mais passível de contaminação por uma carne manchada de pecado original. É como se no mesmo cálice em que se consagra o vinho e onde ocorre a transubstanciação no sangue do Senhor, venha depois à ser machado por qualquer outro líquido impuro como cerveja ou cachaça por exemplo. Ademais, duvidar que Maria permaneceria virgem é negar o poder de Deus e a sacralidade daquele ventre que o Mesmo habitou.
   Sobre a afirmação protestante de que, ao se referir a Jesus como primogênito, o evangelista procura oferecer indício de que este possuísse irmãos, Santo Tomás diz o seguinte:
É costume das escrituras chamar de primogênito não somente aquele que é seguido de irmãos, mas o que nasce primeiro. De outro modo, se fossem primogênitos somente aqueles a quem sucedem outros irmãos, não seriam devidos os direitos à primogenitura, de acordo com a lei, até que nascessem outros. Isto é claramente falso, posto que a lei (Números 18,16), ordena que os primogênitos sejam resgatados após um mês”[3]
   Ao final, o argumentador ainda afirma que Maria teve outros filhos além de Jesus, provavelmente baseando-se nas passagens bíblicas que fazem referência aos supostos irmãos do Senhor que na verdade seriam seus parentes. No início do segundo milênio depois de Cristo, ou seja, muito antes surgimento do primeiro levante protestante, Santo Tomás de Aquino nessa mesma obra que utilizamos para elucidar este artigo, demonstra que na verdade os irmãos citados pelas escrituras eram primos (irmãos por parentesco dentro das categorias abordadas por Santo Tomás) e não irmãos de mesma mãe (seriam nesse caso irmãos por natureza).


REFERÊNCIA
1,2 e 3. Summa Teológica. III, q.28, 3



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